segunda-feira, 18 de março de 2013

Máquina de costura VICKERS



VICKERS mod. De LUXE/fabricação entre 1914/1939(?)



De fabricacão inglesa, é extremamente valorizada pela singularidade de ter o móvel e outros elementos que a compõe  totalmente de madeira, exceto a màquina própriamente dita. Foi resgatada em Itá/SC, do fundo de uma “bodega” pelo jovem Cleverton  C. Borrea que imediatamente percebeu que se tratava de uma peça valiosa. Segundo o  bodegueiro, nos disse Cleverton, ela já havia sido salva de ter submergido junto com a cidade “velha” quando da inundação da área pelo lago da barragem e estava ali naquele local determinada a sucumbir pela ação do tempo ou parar num ferro velho, a não ser que alguém a levasse,  de graça... A partir daí andou, andou e foi cair em minhas mãos.
Pelos retratos acima pode-se ver que a mesma transformou-se nas mãos do restaurador Mario Borrea. Se o bodegueiro de Itá imaginasse...





Agora um pouco de história: VICKERS LTDA, empresa inglesa era conhecida e reconhecida mais pela produção de armamentos do que pela de máquinas de costura. A VICKERS começou a produzir maquinas de costura em pequena escala durante a Primeira Guerra Mundial em Hackney Wick e mais tarde em Crayford até o final da década de 1940.

sábado, 9 de março de 2013

Lâmpada Antiga


Lâmpada de Bronze - Década de 50 (?)

Um dos prazeres de quem gosta de antiguidades é de garimpá-las e encontrá-las nos locais que menos  se espera. Quem não é do ramo nunca imaginaria de que numa “loja” como esta do retrato abaixo tem sempre alguma preciosidade esperando alguém resgatá-la.



Pois foi neste local, Bairro Navegantes, em Porto Alegre, acompanhado de meu primo Carlos Henrique que fiz esta excelente aquisição. Totalmente original, de bronze  - possivelmente dos anos cinquenta -,  requereu  apenas uma limpeza,  e ei-la aí toda charmosa exibindo-se prá voces.
Aproveitamos o espaço desta postagem para apresentar um poema que nos foi enviado pela amiga Ana Leda Bastiani



terça-feira, 5 de março de 2013

O pecado mofento do compadre Arquimedes









T
enho contado cada causo que às vezes nem eu mesmo acredito, imagine quem lê! Mas cada causo é um caso, e esse do compadre Arquimedes tem muito de verdade.
Tava eu lá no Bar já na décima saideira quando me dispus a fazer o compadre contar um, visto que sempre eu tomava a dianteira e a palavra, o que me expõe, pelo menos nas probabilidades, a resvalar nos fatos, justificando alguns exageros e até passar por mentiroso.
Conversa daqui, conversa vem, conversa dali, conversa vai e o compadre capitulou: tá bem, vou contá tudo! Tudo!, disse com voz embargada – o que creditei aos efeitos do trago, mas não...

Pronto, cruzei as pernas, me aboletei na cadeira colonial do estabelecimento, puxei a garrafa pra perto, dei uma coçadinha, preparei um palheiro pra pitá e me dispus a escutá-lo.
- Graças a Deus hoje vou botá pra fora esse segredo que me acompanha tanto tempo e que me martiriza. Era gurizito inocente, branquela, esquálido, podia contar os pelos pubianos, e bem na época da muda quando a sexualidade se define. Fui criado por duas tias carolas, solteironas, à revelia da rua, solitário... Imaginem que nunca participei do campeonato de cuspida organizado pelos guris da turma da esquina... Preferia apreciar minha coleção de borboletas. Essa influência me levou a gostar de literatura, estudar línguas e adorar, adorar tocar cítara...
- Mas, compadre... p.q.p, que que é isso?!
- Cala-te, agora vou até o fim. Meu objetivo era cursar o Instituto de Belas Artes, onde pensava que poderia extravasar minha sensibilidade artística e, então, nesse contexto foi que me apaixonei por um ente de farda...
- Jesus, Maria, José! Onde estamos?
Nesse meio tempo já não era só eu que o escutava, tava o Bar em peso arrodeando-o, todos surpresos com aquela confissão. O silêncio sepulcral era tão quieto que um peido de mosquito seria percebido. Quem diria? O Arquimedes...
Chorava, falava, bebia... Falava, bebia, chorava... Sei lá a ordem! E dê-lhe verbo...
- Pois é, nunca pensei que chegaria a esse ponto. Foi de supetão, mas estava disposto a enfrentar a sociedade preconceituosa que nunca admitiu uma relação do naipe, ainda mais eu guri, tchê! Não tinha com quem repartir essa insídia. Com minhas tias? Nunca, morreriam quando soubessem. Colegas? Viraria chacota. Professor de balé? Talvez compreendesse. Com o padre? Correria risco.
- É de não acreditá! Puta merda, não pode ser... Que vergonheira.
O cuidado em manter o silêncio era tão grande que até mesmo o garçom ia para a calçada abrir a cerveja, para evitar que o “ploc” desviasse a atenção do público e para que todos se mantivessem focados naquele lamentável depoimento.
- De minha janela, na solidão de meu quarto, ficava de campana espiando por entre as persianas o quintal de sua casa, mirando aquele uniforme maravilhoso, azul, cheio de estrelas, confundindo-se com outros, da briosa Brigada Militar tremulando, tremulando no varal... Meu sonho era aninhar-me em seus braços e ser conduzido através de suas mãos experientes ao meu primeiro coito, fossem quais fossem as consequências. Estava disposto a enfrentar a sociedade... Sua condição de militar me seduzia.
- Para, compadre, para... Para!!! Chega!!!, gritei, interrompendo-o, já arrependido da atitude republicana de tê-lo incentivado a contar um causo e com receio de que o desabafo de característica terapêutica de sua catarse comprometesse sua figura e a do Bar, até então, ilibadas. Fosse procurar o catre do Freud, o Pai de Santo da Casa...
- Silêncio. Agora vocês vão me escutar! Felizmente, não levei adiante aquela loucura. A tragédia poderia ser grande, um rio de sangue poderia correr... O assassinato de um infante, no caso eu.
- Per che? Per che?, animou-se a perguntar Berlusconi, um italiano loquaz, único representante do Oásis, a quem foi permitida a entrada para testemunhar aquele terrível fato, pois se tratava de Bar concorrente. Se quisessem mais espaço, que criassem suas próprias histórias.
- A mulher era casada! De papel passado!, cuspiu Arquimedes.
Bah! Ohhhhhhh! COMO ASSIM! Este é o Arquimedes que eu conheço! Ufa! Porrrra! p.q.p., meu São Jorge!... eram algumas das exclamações dos distintos habitantes daquela Casa.
- Como, uma mulher? E a farda?, perguntou Cachoeira, o apontador do jogo do bicho do Bar, incrédulo.
Eu não podia falar, estava engasgado, em estado de choque... Ainda bem, dizer o que daquela quase poca vergonha!?
- Sim. Era minha vizinha, a Irmã Dilma, capitã do Exército de Salvação. Adorava aquela mulher, e o fetiche daquela visão fardada me levava a inspirações lúbricas e que terminavam em prática pouco convencional que diziam enlouquecer, criar cabelos nas mãos e espinhas no rosto. Pecado mofento à época... Pura lenda, pura lenda, sou destro, e se isso fosse verdade teria que fazer a barba na mão direita com a máquina de cortar grama, tal era a frequência com que pecava. Imagine a cabelama... Espinhas? Meu nome seria Cactos, e não Arquimedes. Louco? Contava até três sem pensar... Péra aí, por favor... Consciência...
Nesse interregno de tempo o clima do Bar voltou à sua normalidade, e seus  freqüentadores, já com suas feições relaxadas, comemoravam o epílogo épico do causo que enriqueceu ainda mais o currículo do Arquimedes e manteve incólume o conceito do estabelecimento.
Mas... Epílogo bosta nenhuma, sempre tem um pentelho... Do nada surgiu o Anacleto, o Joãozinho do Bar, que no fundo, no fundo queria ver o nome do compadre na rua da amargura, rugindo peçonhamente:
- Mas e a farda da Brigada?
Fez-se silêncio por meio segundo... Sim! Outros retumbavam em cascata... E a farda de brigadiano? E a farda de brigadiano? Queriam o quê? Ver sangue... Tragédia bolivariana...  O falecimento moral do Arquimedes... Plantar uma nódoa suspeita em seu passado até aqui glorioso... Abrir uma chaga cancerosa em seu peito... Transpassar seu coração com uma lança farroupilha enferrujada... Coisa de loco, partindo de seus pares do sodalício.
Todo o bar voltou ao suspense quanto ao que viria... Os ruídos sossegaram novamente esperando a manifestação do Arquimedes. Alheio àqueles desejos mórbidos, fazendo pose de pensador francês de boteco, tal qual Voltaire, Didereau, Montesquieu, uma mescla deles, o compadre disparou, compenetrado:
- O marido era brigadiano da ROTA de Passo Fundo e diziam que ruim de gênio, tchê... E continuou: Foi melhor parar... Ia sobrá pra mim. Minhas tias carolas diriam que é um pecado mofento, inafiançável.  Vivia com a perspectiva de virar louco da capela e espinhudo. A mão já é um pouco cabeluda, tchê! Mas foi bom desabafar!
E olhando longe que nem cavalo imigrado aperfeiçoando ainda mais a postura francesa, como que pescando o passado, sibilou ainda, erguendo as sobrancelhas e em tom de segredo, a quem quisesse ouvir:
- Pra encurtá a prosa, digo que era uma mulher linda como poucas, tchê! Melhor, só doce de mãe. E aí! Tá mudo? Fala! Gostou do caso, tchê?, explodindo em gargalhadas.
No meio da balbúrdia retomada e ainda apatetado, tentando reunir as ideias, consegui a muito custo sinalizar para o garçom:
- A saideira!
Deus do céu... Tem cada uma, que parece duas...


Autor; Miguel Guggiana
Ilustracao; Leandro Doro