domingo, 18 de março de 2012

Depoimento da vizinha

TV Philco, década de 70, base movel.
Origem: Ronda Alta\ RS.
O causo do homem que escreveu aqui para este espaço cultural e que rendeu o escrevinhado “Direitos iguais”, cujo final ainda não sabemos, começou a ter seus desdobramentos.
Recebi uma carta escrita à nanquim, por  uma pessoa que se diz vizinha do coitado, que nos dá uma visão, assim, não tão favorável àquela, agora,  suposta,  vítima. Leiam:
“Prezado contosdoantiquario
Seu blog está fazendo o maior sucesso aqui na zona. O bolicheiro me disse que já teve dezesseis acessos! Os parentes estão incluídos? Imagine daqui um pouco a Ana Maria Braga vai querer entrevistá-lo! Bem, vou deixar de conversa fiada e passar pro que interessa.
TV Philco, década de 70, base movel.
Origem: Ronda Alta\ RS.
Coisa mais da bem feita! Coisa mais da bem feita! A tunda de laço que o gordão aqui do lado levou. Não é nada daquilo que ele disse. Não gosto de espiar vizinhança, mas, sem querer, eu vejo aquele traste todo dia atolado numa cadeira de balanço comendo pipoca, amendoim, bebendo cerva e vendo televisão. Ele tem uma daquelas amarelinhas sabe, antiguinha, imagem em preto e branco. Só levanta para escutar um radinho, para conferir o jogo do bicho. E espiar minhas filhas por riba do muro quando as gurias vão tomar banho de sol. E o cusco, o tal de Bidu, é igual ao gordão na taradice. Imagina que tive que prender minhas duas gatinhas da investida canina. Nem passarinho se salva. Até galinha angolista. Se tivesse porco espinho iria também... Já chamei o IBAMA trocentas vez e nada! É assunto pro Datena!
Esse Bidu é o Joãozinho dos cachorros.  Desse jeito o Bial leva ele pro Bigbrother. Aquilo é uma perdição. Que sucesso faria embaixo do edredom! MINHA MÃE! MAMÃE! Help!
Ele, o gordão, saía à noitinha, saía naquele Chevette horrível, com o som a mil, fedendo a cigarro, de camiseta do Grêmio, que de tão antiga encolheu, deixando o barrigão de fora. Acham que ia trabalhar. Duvidooooo! Ele diz que é o garçom de sua estória “Coisa de bar”, do Bar Morandi, daqui de Passo Fundo. Se gaba disso!  Olhaaa! É difícil!
Prá mim não passa de um jaguara. Dizem que ele tem outra... A Norma. Não sei?!
Ah! Do Chevette não sobrou nem o guidom! Coisa mais da bem feita!
Antes que me esqueça, toca uma música para mim no seu blog. Com dedicatória. Tenho uma cumadre que diz que o Senhor nem vai me dar bola. Se quiser falar pessoalmente comigo podemos marcar um encontro na rodoviária e...”
Lá pelas tantas, a missiva é bem comprida, tem a ressalva que “o sucesso aqui na zona” refere-se a ambiente familiar. Não é daquela “zona”. Que fique bem claro.
Encerro por aqui.
Alô! Alô! Vizinha que prestigia esse espaço cultural, dedico-lhe carinhosamente esta música. Gostaria de te dizer tantas coisas bonitas, mas deixo isso para o Wando,   que através de seu romantismo, lhe prestará a homenagem que merece. Vem Wando, canta pra ela.

segunda-feira, 12 de março de 2012

É pior que...

Adquirida em Pasapag, Ürgup\Turquia.
Uruguaiana ficou em polvorosa, literalmente, quando leram o “Aqui ta pior. Bem pior”. Olha só o que Menezão ditou prá cumadre dele. Ele não se dá bem com as letras.
“E aí rapaz?! Quanto tempo. Li teu blog esses dias, quem me noticiou foi o Nairo.
Aquilo  que tu publicou aí foi foi fato,  a mais pura verdade. Desci aquela Duque num galope só, levantando poeira,  que não vi igual. O tubiano sabe quando precisa acelerar o passo. Tche! O pó que levantou naquela rua foi monstruoso. Dizem que chamaram até os bombeiros de LIbres para ajudar a atirarem uma água.  A roupa que estava estendida no varal das casas ficou uma imundicie só. Cancelaram até a missa.  O avião da Varig não subiu prá o Itaqui.  Três ninho de coruja soterrado. Calamidade pública. Cavalito bom, de carrera, é isso.
E a Policia Montada! Chegaram naquele jeepe, um brigadiano com a cabeça prá fora fazendo UUUuuuuuuu” UUUuuuuuuuu!  Aquela merda da sirena vive estragada.
O estropício foi de cinema. De cinema.
Bueno. Sabe como vim parar no Touro Passo? Eu não enxergava nada. A polvadeira era uma coisa só. Minha intenção era ir pra Barragem. O tubiano também. Perdemo o rumo. Vou acabar comprando aqui dos camelô  um óculos escuro de cavalo. Pro cavalo. Talvez um GPS.
E tem mais. A guria é uma tigra. Já viste uma tigra braba? Eu também não. Mas é por aí. O pior é que eu gosto dela. O outro teu dizido “Dor de cotovelo” se enquadra bem prá mim . Essa doença é pior que talho na bunda. Dói e não sara nunca.
Disse pro Nairo. Vamos ficar por aqui uns dias pescando. Deixar as coisas se acalmarem.
Adquirida em Pasapag, Ürgup\Turquia.

 Passamo na venda para comprar pão sovado e lingüiça.  Mas nem te conto. Acabamo comprando lingüiça em metro. O bolicheiro queria pesá naquelas balancinha de pesá peixe. Aí trouxe uma. Outra. E outra. Todas antigonas. Não dá, não é! Sô véio nisso!

De bolso Krups Pocket. Origem Gran Bazar,
Istambul\ Turquia

Enrolei bem, e cuidei da cachorrada.  Aqui a cuscama come carne. É. O cusquinho da tua estória, “Direitos iguais”, o Bidu, é vegano!?. Dá uma carninha prá ele. Quero vê!
Tu sabe da última¹? Bah! Nem te conto! O filho do bolicheiro vai pro Seminário. É. O Joãzinho. É uma praga. Bota praga nisso.  E a filha do véio.......”

Vou encerrar  por aqui.

Para os uruguaianeses Entrando no Bororé. http://www.youtube.com/watch?v=emq4XQ07LfU&feature=related

quinta-feira, 8 de março de 2012

Direitos iguais.

Recebi fax de um leitor deste blog que lendo “Dor de cotovelo”e  “Aqui ta pior. Bem pior”,  animou-se a contar sua história. Pareceu-me respeitoso. Começou assim: “seu contosdoantiquario...”
Emotivo, também. O papel do fax estava úmido, imagino que de lágrimas, de tristeza. Seu caso não era de cotovelo. PIOR. Muito pior. A mulher tinha outro, e dentro de sua própria casa. Seu nome, Bidu. Daqueles cachorrinho pequeninho, nojentinho. Com registro e tudo o mais. Tinha até carteira da Unimed pois se recusava a ir à pet shop, afinal era um ser humano como outro qualquer como diria o ex-ministro Magri.
E o cusquinho, não vão acreditar, era veganinho. Comia tomate, rúcula e alface, com óleo de oliva, puro, com acidez de 0,1%, carésimo..... Não resistia a uma berinjela. Um vez comprou óleo de soja misturado com o de oliva, era mais barato. Pra quê? Levou bronca do dog e da mulher.
Água? Só mineral e com gás. Ração só da Royal Canin.  Xampu só do Boticário. Passear, só de patinete. E ele empurrando.
Pra ele, massa miojo, água da cacimba e sabão em barra. Aquilo que é bom, só de quinze em quinze dias, depois da novela, com o Bidú latindo; “quero passeá, quero passeá” ( au au traduzido). “Le chien” era ciumento.
Só queria direitos iguais. Nada mais. Não queria vantagens. Direitos iguais.
Sentava para escutar o radinho, e a mulher dizia “leva o Bidu pra passeá”.
Sentava para ver Grêmio x Lajeadense, e a mulher dizia “dá suquinho de laranja pro Bidu”.
Sentava para tomá uma Norteña e a mulher dizia “escova o Bidu”
Sentava para escutar o Sala de Redação e a mulher dizia “dá banho no Bidu”.  Banho! Eureka!


Motorádio modelo RCM-65, ano 1984.
Doação de Ellen e Airton.

Preparou o plano para uma fuga rápida. Sabia que ia dar bolor. A coisa iria feder. Deixou o Chevettão ligado na garagem, juntou o radinho, um Motorádio, a coleção de discos do Francisco Alves, o pijama listrado, meia dúzia de carpim, a camiseta do Grêmio, enfim, o básico.
Ritualizou a operação. Tirou as pantufas do bicho, fez uma cosquinha, aqueceu a água mais do que o recomendado e... deu  banho no Bidu.  Seria o último. Com creolina. E ainda adicionou um copo de Isa Raz. Já que ia dar merda, que a razão fosse bem justificada.

Não demorou cinco minutos, o perro e a mulher com um objeto qualquer na mão, não lembrava o quê, vieram a mil para cima dele.  GRITANDO “CACHORRO, TE MATO”. O Bidu sabia que não era pra ele. O CACHORRO era o nosso missivista.

Coleção propria.

Transcrevo suas últimas palavras, textuais. O meu fax estragou nesse ponto; “corri rápido prá garagem, me acomodei no Chevettão, motor aquecido, olhei para trás e gritei Biuuuhuhhhuu!! nunca mais, nunca mais. Não é que o controle do portão automático pifou......”
Por favor, entre em contato novamente e conte o fim da estória. Seu nome será preservado.
Tem cada uma! Esta é de tomá Fanta Uva na rodoviária. Fora do gelo.
Sugestionado pelo missivista tocaremos Francisco Alves em... http://www.youtube.com/watch?v=Es8EzIP2AYI


domingo, 4 de março de 2012

Aqui tá pior. Bem pior.

                                                         Philco Hitachi doada por Izabel M.D.Rodrigues. 
                                                             Adquirida em maio de 1982

Recebi aqui nos estúdios do blog uma carta registrada, proveniente de Uruguaiana.  Cita o livro “As boas mulheres da China”. Li. Recomendo para leitura. De conteúdo forte,  nos levará a reflexões interessantes, muito embora vivamos em outra realidade. Os tempos são outros. Talvez  ainda não na China.
Importante considerar que o texto deste causo, inspirado no livro, proveniente de um gaúcho, uruguaianense, carrega consigo alguma dose de machismo através do linguajar,  retratando características da região fronteira oeste do estado. Que poderia ser também de Minas. Da Bahia. De... e por aí afora. Só muda o palavreado.
“Antiquário. Isso aí é nome! É?!
Que coisa o que aconteceu com teu amigo, hein! Elas estão assim aí em Passo Fundo, é? Mas aqui tá pior. Bem pior. Pelo que vi, aí foi um radinho que atiraram. Eu sei, sei, de 1953. Tá bem. É grave também. Lembra do Menezão? Fez a mesma coisa. Foi fazer uma serenata de desagravo, para inticar a mulher, com violão e banquinho, e cantar. Escolheu a música, até que bem bonitinha; Minha éguinha pocotó. Puta rapaz!  Atiraram uma televisãosona, daquelas antigas, lindas, não se compra mais. Digo atiraram porque a mãe da dismilinguida ajudou.  Jararaca. Tinha que ser de duas.  Era pesadona. Era. A véia é forte. Tão de quadrilha! Ah tão!
Tche, o Menezão pegou o cavalo, um tubiano, e desceu a Duque a galope, levantando poeira. Foi parar lá em Touro Passo. Lindo de vê! Não queria vir mais pro povo. O Nairo foi buscá-lo de charrete.
Elas não tem dialogo. Queria ver se fosse lá na China se elas iriam fazer esses desaforos.
Aqui na cidade anda um livrito, fininho, mas não li. Não tem figura. Mas a gurizada da Faculdade me disse que trata do tratamento que as chinesas tinham. É de amargá rapaz. Barbaridade. O nome é “As boas mulheres da China”. Isso que eram boas, hein! Bah! Duma tal de Xinram. Vi o retratinho dela, olha! É bem ajeitadinha. Olhaaaaaa! Bonitona!
Bueno tche, pelo que os guris me disseram, comparando com a chinesada, aqui nos tratamo elas a pão de ló. Vida mansa.  Mas, carinho e rédea curta. Esta é a receita.
E assim mesmo reclamam de tudo. Jogá bocha, passando das duas da manhã já dá uma baita confusão. Tomá uma cachacinha com butiá, só escondido. Rinha de galo esquece. Usá a escova de dentes delas, nem pensar. E por aí vai. Tão criando asa. Tão pedindo uma garoa com vento!
Mas rapaz, aparece aqui.  Pode vir de combi. Despacito. Despacito. A carreteira ta boa. Vamos tomá um chimarrão, uma batida de Nescau com bergamota. Ou só proseá. Te prometo que não vamo passar pela Duque.
Temos que nos organizá. A situação está fugindo de nossas mãos.
Escute: http://www.youtube.com/watch?v=wQWKVtx2OVY 
Bueno, mas que elas são lindas são. E quando brabas então. Tu lembra quando....”
Vou encerrar por aqui. Vem chegando mais correspondência. O fax e o telex não param.
Para os uruguaianenses lá vai.. Negro da Gaita.



Autor: Miguel Guggiana
Ilustração: Maurício Zamprogna